naturalidade
Rio de Janeiro
fontes
Acervo do Instituto Piano Brasileiro

Araújo, Luis Edmundo. Testemunhas do século: Mariuccia Iacovino, 87 anos. Disponível em: http://www.terra.com.br/istoegente/49/testemunha/

Cohen, Arnaldo. CDs recuperam obras de compositores brasileiros, interpretadas pelo pianista Arnaldo Estrella. Disponível em: http://www.arnaldocohen.com/pt/articleDetail.php?a=9

Especial Arnaldo Estrella em “Concertos UFRJ”, disponível em: http://www.musica.ufrj.br/index.php?option=com_content&view=article&id=690:especial-arnaldo-estrella-em-concertos-ufrj&catid=99:temporada-2011&Itemid=203

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional. Disponível em: memoria.bn.br

Lago, Sylvio. A arte do piano: compositores e intérpretes. Algol Editora, 2007.

Marcondes, Marcos Antonio (org.). Enciclopédia da Música Brasileira. Publifolha, Artfolha, 1998.

Ciclo Arnaldo Estrella – Mariuccia Iacovino, produzido por Lauro Gomes para a Rádio MEC, 2008
Atualizado em 06.11.2018
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Arnaldo Estrella

N. 14 de Março de 1908
F. 21 de Fevereiro de 1980
Por Alexandre Dias e André Pédico

Arnaldo Estrella nasceu em 14 de março de 1908, no Rio de Janeiro, e iniciou seus estudos musicais ainda criança com uma de suas tias. Entre 1913 e 1923, estudou piano com o professor italiano Enrico Borgongino, crítico do jornal Correio da Manhã. Por volta dos 14 anos, deu seu primeiro recital público, interpretando a Sonata Appassionata, de Beethoven. Em 1923, aos 15 anos, ingressou no Instituto Nacional de Música, onde estudou por sete anos, recebendo a medalha de ouro na classe do professor Barrozo Netto (1881-1941).

Em 1930, aos 22 anos, já mostrava um engajamento com a música brasileira, ao publicar o artigo “O compositor e o intérprete brasileiro”, na revista Weco, da qual havia acabado de se tornar um dos redatores-chefes, chamando a atenção para necessidade de se incluir no repertório de concerto obras de compositores brasileiros. Porém uma característica marcante de sua carreira é o fato de ter se dedicado com brilhantismo tanto ao repertório nacional quanto ao repertório universal.

Em 1931, começa a participar de recitais no TMRJ, acompanhando outros músicos. Neste ano, participou de um recital de alunos de Barrozo Netto interpretando a Sonata de Liszt, e ilustrou uma conferência de Andrade Muricy no Salão Essenfelder, interpretando duas músicas de Ernesto Nazareth. Em 1933, acompanhou a soprano Bidu Sayão em dois recitais pela Sociedade de Cultura Artística de São Paulo. A partir de 1934, continuou seus estudos com o pianista espanhol Tomás Terán (1895-1964). Estudou harmonia e contraponto com Oscar Lorenzo Fernandez (1897-1948). Anos mais tarde, viria a aperfeiçoar-se com os pianistas Zygmunt Stojowski e Yves Nat.

Em 1934, formou um trio com o violinista Oscar Borgerth (1906-1992) e com o violoncelista Iberê Gomes Grosso (1905-1983), que interpretou obras como o Trio No.2 de Villa-Lobos e trios de Beethoven. Neste ano, realizou algumas transcrições de peças para pequena orquestra, transmitidas pela Rádio Philipps.

Em 1935, tornou-se professor assistente da Universidade do Distrito Federal (depois incorporada à Universidade do Brasil), no Rio de Janeiro, exercendo esse cargo até 1943.

Em 1937, fez a estreia mundial do Concerto No.1 de Lorenzo Fernandez, com a Orquestra Sinfônica do TMRJ sob regência do compositor, sendo esta a primeira vez que Estrella se apresentou no TMRJ como solista frente a uma orquestra. Em 1938, solou a 1ª Fantasia brasileira de Francisco Mignone com orquestra sob regência do autor, também no TMRJ. Ainda neste ano, apresentou-se no Salão Leopoldo Miguez por ocasião do 87º aniversário da Casa Carlos Wehrs, interpretando arranjos de Francisco Mignone para 5 pianos, juntamente com os pianistas Tomás Terán, Barrozo Netto, João Itiberê da Cunha e Francisco Mignone.

Em 1937, 1938 e 1939, atuou como regente da Orquestra de Concertos da Sociedade Propagadora de Música Sinfônica e de Câmara, durante os festivais Tattwa Nirmanakaia, no TMRJ, regendo obras de Francisco Braga, Wagner e Beethoven. E, entre 1941 e 1942, foi regente da Orquestra Pró-Música do Rio de Janeiro.

Em 1939, solou o Concerto No.2 de Rachmaninoff no TMRJ com orquestra sob regência de Edoardo di Guarnieri. Neste mesmo ano, realizou a 1ª audição de New York Skyline, de Villa-Lobos. Também se apresentou em duo com Francisco Mignone, com quem interpretou a dois pianos obras de Ernesto Nazareth e Mignone, arranjadas por este último. Em 1940, integrou a embaixada artística que foi a Buenos Aires e Montevidéu.

Em 1941, fez a estreia mundial da Sonata No.1 para piano de Francisco Mignone, compositor de quem era amigo, e que cuja obra sempre fez parte de sua carreira. Neste mesmo ano, participou do programa de rádio Ondas musicais, transmitido por diversas emissoras, interpretando obras de Bach-Szanto, Mozart, Chopin, Fauré, Debussy e Granados.

Em 1942, apresentou seu primeiro recital solo no TMRJ, com obras de Cimarosa, Beethoven, Brahms, Chopin, Debussy, Fructuoso Vianna, Lorenzo Fernandez e Villa-Lobos. E, neste ano, conquistou o primeiro prêmio no Concurso Columbia Concerts Award for Young Brazilian Pianists no Rio de Janeiro, cujo júri era presidido por Guiomar Novaes, obtendo projeção internacional, o que o levou a realizar uma série de concertos nos Estados Unidos em 1943, em cidades como Chicago, Washington, Filadélfia e Nova York (Carnegie Hall e Town Hall), vindo a tocar sob regência de Bruno Walter, Eugene Ormandy e Dimitri Mitropoulos. Solou obras como o Concerto No.1 de Tchaikovsky e o Concerto No.2 de Radamés Gnattali, este último em primeira audição mundial. O Concerto de Tchaikovsky, que interpretou sob regência de Bruno Walter, foi transmitido pelo rádio e gravado, embora não tenha sido lançado comercialmente. Também se apresentou em Cuba neste ano. Nos Estados Unidos, este concurso foi realizado concomitantemente, e o vencedor foi o pianista Joseph Battista.

Ao longo de sua carreira, realizou, tanto como solista quanto camerista, muitas turnês, vindo a tocar nas principais cidades da América do Sul, América do Norte, Europa, China, e África, atuando como solista com as Orquestras Sinfônicas de São Paulo, Rio de Janeiro, Montevidéu, Buenos Aires, Filarmônica de Nova York, Filadélfia, Minneapolis, Cincinatti, Chicago, Baltimore, Indianópolis, Washington, Bruxelas, Praga, Paris, entre outras.

A partir de 1943, passou a se apresentar em duo com sua esposa, a violinista Mariuccia Iacovino (1912-2008), realizando, por décadas, um importante trabalho de divulgação da música de câmara brasileira, vindo a gravar, por exemplo, obras de Camargo Guarnieri (Sonata No.4), Leopoldo Miguez (Sonata, gravada ao vivo em 1968), Villa-Lobos (Sonatas No.1, 2 e 3), e Francisco Mignone (Sonata No.1).

Entre 1943 e 1946, foi professor titular do Conservatório Nacional Canto Orfeônico, no Rio de Janeiro, criado a partir de projeto de educação musical apresentado por Villa-Lobos a Getúlio Vargas. Estrella fez parte, desde a juventude, do círculo de intérpretes e amigos de Villa-Lobos, que o considerava um dos pianistas ideais para a suas obras e lhe dedicou o Álbum No.3 do Guia Prático e o Concerto para piano e orquestra No.3.

Em 1944, realizou suas primeiras gravações comerciais em discos 78-RPM, lançados pela Continental, com obras de Chopin (Estudo Op.10 No.3, Polonaise Op.40 No.1, Valsa No.14, Valsa No.7), Rachmaninoff (Prelúdio Op.3 No.2) e Villa-Lobos (A maré encheu e Na corda da viola). No ano seguinte, gravou um novo grupo de 78-RPMs pelo mesmo selo, com obras de Chopin (Prelúdio Op.45), Debussy (Golliwogg’s cakewalk), Francisco Mignone (Valsas de esquina No.3 e No.4), Mompou (Jeunes filles au jardin) e Rachmaninoff (Prelúdio Op.3 No.2, outra gravação). Nesta época, também gravou as Impressões seresteiras, de Villa-Lobos, para a mesma gravadora, e as Valsas de esquina No.1 e No.2, de Francisco Mignone, pela Odeon.

Ainda na década de 1940, apresentou-se em recitais solo com obras de Bach-Szantó, Brahms, Liszt (Sonata), Debussy, Rachmaninoff, Prokofieff, Villa-Lobos, Chopin, e os Concertos de Grieg, e No.2 de Rachmaninoff (em Paris, em 1949), sob regência de maestros como Souza Lima, Sir Ernest MacMillan, Paul Paray e Eugen Szenkar. E realizou a estreia mundial de obras de Claudio Santoro (6 peças - 2ª série para piano, e Sonatina No.1, em Paris) e Villa-Lobos (Hommage à Chopin, também em Paris). Desta época, data uma gravação que fez para o programa “Dona música”, transmitido pela Rádio Nacional, interpretando excertos do Concerto de Grieg sob regência de Leo Peracchi.

Em 1947, tornou-se professor da Escola de Música da UFRJ, onde atuou até 1969. Suas atividades didáticas também compreendiam aulas particulares, através das quais orientou gerações de pianistas brasileiros, muitos dos quais se tornaram também grandes professores, tais como Maria Josefina Mignone (1923), Belkiss Carneiro de Mendonça (1928-2005), Fernando Lopes (1935), Miguel Proença (1939), Antônio Guedes Barbosa (1943-1993), Jean-Louis Steuerman (1949), Myrian Dauelsberg (sua enteada, que se tornaria uma professora e empresária de referência), Linda Bustani (1951), Luiz Medalha (seu assistente no Rio de Janeiro, e depois em Goiânia), Vera Astrachan, Marcelo Verzoni (1958), Marco Aurélio Xavier, Diana Santiago, Alda de Mattos e Eliane Rodrigues (1959).

Em 1948, por proposta de Andrade Muricy, foi criado na Academia Brasileira de Música um quadro extraordinário de até 20 Membros Intérpretes, “regentes, cantores ou instrumentistas brasileiros natos ou naturalizados, de renome excepcional e mérito superior comprovado, dignos de serem declarados representativos da arte musical brasileira”. Arnaldo Estrella ocupou a cadeira No.5 deste quadro.

Por ocasião do centenário de Chopin, em 1949, gravou para o selo francês Chant du monde uma série de 78-RPMs com obras do compositor polonês: 7 mazurcas, a Fantasia-improviso Op.66 e o Noturno Op.9 No.2. Também gravou o Choros No.5 “Alma brasileira” e A maré encheu, de Villa-Lobos.

Em 1952, Estrella e Iacovino uniram-se a Jorge Amado (1912-2001), Candido Portinari (1903-1962) e Pablo Picasso (1881-1973) no Congresso de Varsóvia, Polônia, organizado por Pablo Neruda (1904-1973) em prol da paz.

Na década de 1950, apresentou diversos recitais solo com obras de Haydn (Sonata em fá maior), Beethoven (Sonatas No.4 e No.26), Schubert (Sonata em lá maior Op.120), Chopin (Sonata No.3 e as 4 Baladas), Schumann (Carnaval), Liszt (Sonata), Brahms, Debussy, M. Albéniz, Soler, Mompou, De Falla, Granados, Oscar Espiá (Sonata espanhola, em primeira audição no Brasil), Prokofieff (Sonata No.7), Claudio Santoro (Danças brasileiras No.1 e No.2), Villa-Lobos (Ciranda No.8 "Vamos atrás da serra, Calunga...", Dança do índio branco, Ária, 3ª mov. das Bachianas brasileiras No.4), Fructuoso Vianna (Dança de negros), Camargo Guarnieri, Francisco Mignone (Valsa de esquina No.12 e Lenda sertaneja No.9), e os Concertos No.1 de Liszt, No.1 de Brahms, No.2 de Rachmaninoff, Momoprecoce de Villa-Lobos, Fantasia brasileira No.1 de Francisco Mignone, Noites nos jardins de Espanha, de De Falla, sob regência de maestros como Eleazar de Carvalho, Lamberto Baldi, Francisco Mignone e Lionello Ferzanti.

Nesta época, gravou em acetato uma série de seis valsas, presentes no arquivo de Mario de Andrade e que provavelmente não foram lançadas: Valsa No.4 de Camargo Guarnieri, Valsa No.1 de Dinorá de Carvalho, Valsa No.2 de Clorinda Rosato, Valsa No.1 de Souza Lima, Valsa de esquina No.5 de Francisco Mignone e Saudosa, de Arthur Pereira.

Conhecido por sua imensa cultura, Estrella foi celebrado por notáveis escritores e intelectuais brasileiros. O pianista é citado por Graciliano Ramos (1892-1953) em sua obra “Viagem”, que narra a visita do escritor à U.R.S.S. (1952). Durante parte da viagem, Ramos foi acompanhado por Estrella, o qual, segundo o escritor, possuía um notável conhecimento sobre arqueologia e outros assuntos. Manuel Bandeira (1886-1968) considerava Estrella seu pianista favorito, e sobre ele escreveu: “nem foi à toa que lhe deu a natureza o belo perfil de falcão imperioso”.

Entre 1956 e 1957, participou dos Vols. 1, 6 e 8 da série de 10 LPs “Música Brasileira”, lançados pela Divisão Cultural do Ministério das Relações Exteriores, interpretando obras de Camargo Guarnieri (6 Ponteios, Toada triste, Sonatina No.4 e Sonata No.4 para violino e piano, esta última com Mariuccia Iacovino), Villa-Lobos (2 movs. das Bachianas brasileiras No.4), Brasílio Itiberê II (O Protetor Exú – 3º mov. da Suíte litúrgica negra), e Claudio Santoro (4 Paulistanas). Em 1958, a gravadora Festa lançou dois discos referenciais intitulados Antologia da Música Erudita Brasileira Vols.1 e 2, em que Arnaldo Estrella interpretou obras de Neukomm, Brasílio Itiberê, Brasílio Itiberê II, Leopoldo Miguez, Henrique Oswald, Alexandre Levy, Alberto Nepomuceno, Barrozo Netto, Villa-Lobos, Fructuoso Vianna, Lorenzo Fernandez, Radamés Gnattali, Francisco Mignone, Souza Lima, Camargo Guarnieri e Luiz Cosme. Estes dois discos foram relançados em CD em 1999. Havia planos para mais dois volumes para esta coleção: Vol. III Antepassados, e Vol. IV – Contemporâneos, porém o projeto não se concretizou. No entanto, um 3º volume chegou a ser gravado, permanecendo inédito, com obras de Camargo Guarnieri (9 Ponteios, Dança negra, Toccata), Villa-Lobos (Choros No.5 “Alma brasileira”, O gatinho de papelão, de A prole do bebê No.2, Dança do índio branco, e Prelúdio das Bachianas brasileiras No.4), Francisco Mignone (Lenda sertaneja No.2 e Sonatina No.4).

No final da década de 1950, fez a estreia mundial de três importantes obras para piano e orquestra, todas dedicadas a ele: o Choro para piano e orquestra, de Camargo Guarnieri (em 1957 com a Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo sob regência de Souza Lima no TMSP, repetindo-o depois no TMRJ sob regência do próprio compositor), o Concerto No.3 de Villa-Lobos (em 1957, com a Orquestra Sinfônica Brasileira sob regência de Eleazar de Carvalho no TMRJ) e o Concerto de Francisco Mignone (em 1959, com a Orquestra Sinfônica do TMRJ sob regência do compositor, no TMRJ).

Em 1959, foi lançado no Canadá o LP “Jeunesses Musicales”, do qual participou interpretando obras de Villa-Lobos (Valsa da dor e Na corda da viola) e Albéniz (Tango em ré).

Integrou o júri de importantes concursos, como o II Concurso Internacional de Piano do Rio de Janeiro, em 1959; o III Concurso Internacional de Piano do Rio de Janeiro, em 1962; III Concurso Nacional da União dos Músicos do Brasil, em 1962; e o IV Concurso Internacional de Piano do Rio de Janeiro, em 1965.

Na década de 1960, realizou recitais com obras de Chopin (incluindo a Sonata No.2 e 2 Baladas), e solou os Concertos No.3 e No.5 “Imperador” de Beethoven, No.2 de Chopin, No.1 de Brahms, No.1 de Tchaikovsky, No.2 de Rachmaninoff, No.23 de Mozart, No.3 de Villa-Lobos, o Concerto de Schumann, o Concerto de Busoni, Noites nos jardins de Espanha, de De Falla, e a Rapsódia sobre um tema de Paganini, de Rachmaninoff, com regentes como Felix Prohaska, Isaac Karabtchevsky, Souza Lima, Alceo Bocchino, Edgard Doneux, Mário Tavares e Eleazar de Carvalho. Tocou em 1960 em Varsóvia, e em 1966 em Lisboa, nesta última cidade com a violinista Mariuccia Iacovino.

Nesta época, atuou como crítico musical nos jornais “O Globo” e “Última hora”. Uma de suas crônicas, intitulada “Sinfonia Vale-Tudo” e publicada em 1965 neste último jornal, foi replicada por Rubem Braga em sua crônica diária para a Rádio MEC, como uma homenagem a esta faceta literária do grande pianista. Entre 1962 e 1963, foi diretor da Revista Brasileira de Música, editada pelo Conselho Federal da Ordem dos Músicos do Brasil.

Em 1963, atuou como solista e regente do Concerto No.1 de Brahms frente à Orquestra Sinfônica Nacional no TMRJ, e, em 1967, juntamente com Mariuccia Iacovino, fez a primeira audição mundial do Concerto para violino, piano e 32 instrumentos solistas, de Francisco Mignone, com orquestra sob regência de Sussine, em Lisboa, Portugal. Alguns meses depois, o duo apresentou este concerto com a Orquestra Sinfônica Brasileira sob regência de Isaac Karabtchevsky, no TMRJ.

Em 1968, realizou um recital histórico na Sala Cecília Meireles, inteiramente dedicado a obras de Heitor Villa-Lobos, realizando a primeira audição mundial da valsa Tristorosa. Este recital foi gravado, e serviu de base para o LP “O piano de Villa-Lobos”, lançado no ano seguinte, contendo 20 faixas. Em 1969, estreou a obra “Diálogo”, de Bruno Kiefer, para piano e orquestra sinfônica, com a OSN.

Seu livro “Os quartetos de cordas de Villa-Lobos” foi premiado em concurso do Museu Villa-Lobos, e publicado em 1970. Neste mesmo ano, por sugestão da direção da direção da Sala Cecília Meireles, Arnaldo Estrella (piano), Mariuccia Iacovino (violino), Frederick Stephany (viola) e Iberê Gomes Grosso (violoncelo) formaram o Quarteto da Guanabara, que desenvolveu intensa atividade artística, apresentando-se por todo o país e participando de algumas das Bienais de Música Brasileira Contemporânea. Por muitos anos, o grupo tocou no foyer do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, e interpretou obras de autores como Schumann (Quarteto Op.17), Radamés Gnattali (Quarteto Op.2), Mahler (Quarteto em lá menor), e Fauré (Quarteto Op.15). Em 1974, o compositor Almeida Prado dedicou ao quarteto sua peça “Ex Itinere = do caminho”. Em 1988, após o falecimento de Arnaldo e Iberê, Luiz Medalha (piano) e Marcio Mallard (violoncelo) passaram a integrar a nova formação do quarteto.

Na década de 1970, tocou recitais solo com obras de Bach-Siloti, Soler, Granados, Albéniz, Villa-Lobos, Chopin e Mompou. Nesta época, era diretor do Departamento de Assuntos Culturais do Rio de Janeiro.

Em 1976, foi lançado pela Philips o LP duplo “Arnaldo Estrella”, vol.9 da série Personalidades, com uma coletânea de suas gravações realizadas para o selo Festa na década de 1950. Neste ano, estreou o Trio No.2 de Armando Albuquerque, com Mariuccia Iacovino (violino) e Iberê Gomes Grosso (violoncelo). Em 1978, forneceu um extenso depoimento ao Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro, conduzido por Eurico Nogueira França, Henrique Morelenbaum, Mindinha Villa-Lobos, Celina Luz e José Maria Monteiro, em que falou sobre as diversas facetas de sua carreira.

Dentre as honrarias que recebeu em vida, estão a Ordem do Mérito Civil da Espanha, Medalha Carlos Gomes do Estado da Guanabara (1965), Prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Artes) na categoria "Solista" (1966), e Prêmio APCA na categoria "Conjunto de câmara", pelo Quarteto da Guanabara (1971).

Arnaldo Estrella faleceu em Petrópolis (RJ), em 21 de fevereiro de 1980.

Em 1980, foi criada em sua homenagem a Sala Arnaldo Estrella, na Casa Milton Pianos, Rio de Janeiro, que produziu concertos até pelo menos 1986. Diversos concursos homenagearam o nome de Arnaldo Estrella, em diferentes cidades, como Rio de Janeiro e Juiz de Fora. Em 2000, a gravadora Masterclass homenageou-o com o volume 5 da série “Grandes Pianistas Brasileiros”, onde foram relançadas pela primeira vez em CD as gravações do disco de 1969 com obras de Villa-Lobos. Em 2008, foi transmitido pela Rádio MEC o “Ciclo Arnaldo Estrella – Mariuccia Iacovino”, uma série de 9 programas, de 1 hora de duração cada, produzido por Lauro Gomes em homenagem ao centenário de nascimento do pianista e em reverência ao falecimento da violinista, contendo diversas gravações raras e inéditas.

Músicas dedicadas a Arnaldo Estrella:

Francisco Mignone: Concerto para piano e orquestra (em comemoração ao 50º aniversário de Estrella); Valsa de Esquina No.1; e Sonata No.1 para violino e piano (dedicada ao duo Mariuccia Iacovino e Arnaldo Estrella); Concerto duplo para violino, piano e orquestra (idem);

Camargo Guarnieri: Estudo No.1; Choro para piano e orquestra;

Heitor Villa-Lobos: Concerto No.3 para piano e orquestra; Álbum No.3 do Guia Prático (O Pastorzinho, João Cambuête, A Freira, Garibaldi foi à missa, e O Pião);

Almeida Prado: Ex Itinere = do caminho (dedicada ao Quarteto da Guanabara - Mariuccia Iacovino, Arnaldo Estrella, Frederick Stephany, e Iberê Gomes Grosso);

Waldemar Henrique: Tamba-tajá (dedicatória a diversos músicos, dentre eles Arnaldo Estrella);

Lorenzo Fernandez: 1º Concerto para piano e orquestra;

Theodoro Nogueira: Dança brasileira No.9 “Marcha carnavalesca”;

Souza Lima: 1º valsa;

Claudio Santoro: Toccata.