naturalidade
Petrópolis (RJ)
fontes
Leite, Edson. Antonietta, Guiomar e Magdalena, pianistas do Brasil. Editora Acquerello, 2011.

Marcondes, Marcos A. (org)- Enciclopédia da Música Brasileira (2ª ed., 1998)

Tagliaferro, Magda. Quase Tudo. Tradução de Maria Lúcia Pinho. Editora Nova Fronteira, 1979.

Site da Fundação Magdalena Tagliaferro:
www.magdatagliaferro.com.br
Atualizado em 25.06.2019
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Magdalena Tagliaferro

N. 19 de Janeiro de 1893
F. 9 de Setembro de 1986
Por André Pédico

Magdalena Tagliaferro nasceu em Petrópolis, em 19 de janeiro de 1893. Iniciou seus estudos pianísticos aos cinco anos com seu pai, Paulo Tagliaferro, que havia sido aluno, em Paris, de Gabriel Fauré (1845-1924) e de Raoul Pugno (1852-1914). Aos nove anos, a pianista fez sua estreia em público, interpretando o Concerto No.20 em ré menor, de Mozart. Dois anos depois, realizou sua primeira turnê, apresentando-se no Brasil, Argentina e Uruguai.

Aos 13 anos, Magdalena e sua família mudaram-se para a França, onde, por recomendação de Raoul Pugno, foi admitida como aluna no Conservatório de Paris, tendo aulas com Antonin Marmontel (1850-1907). Após um ano, obteve, entre 46 candidatos, o primeiro prêmio e a medalha de ouro no concurso do conservatório, interpretando a Sonata No.2 em lá bemol de Weber. Entre os jurados desta prova estavam Moritz Moszkowski (1854-1925), Alfred Cortot (1877-1962) e Gabriel Fauré. Nessa época, a artista realizou seu primeiro concerto na Sala Érard, em Paris.

Em seguida, Magdalena tornou-se aluna de Alfred Cortot, que, segundo ela, lhe abriu novos horizontes interpretativos, estimulando sua imaginação musical. Em 1908, a pianista foi convidada por Fauré, então diretor do Conservatório de Paris, para uma série de concertos na França. Nesses eventos, os dois artistas interpretavam, entre outras obras desse compositor, a Balada Op.19 para piano e orquestra, em uma transcrição a dois pianos.

A pianista, que então adotou o nome artístico de Magda Tagliaferro, passou a se dedicar a uma expressiva carreira internacional. Apresentou-se com importantes orquestras, tais como a Filarmônica de Viena, Concertgebouw de Amsterdã, Filarmônica de Berlim e a Orquestra da Suíça Romanda. Entre os principais maestros com quem atuou podemos citar Wilhelm Furtwängler (1886-1954), Gabriel Pierné (1863-1937), Ernest Ansermet (1883-1969), Charles Munch (1891-1968), Leopold Stokowski (1882-1977), Lorin Maazel (1930-2014), Pierre Monteux (1875-1964), e os brasileiros Heitor Villa-Lobos (1887-1959), João de Souza Lima (1898-1982) e Eleazar de Carvalho (1912-1996).

Em 1928, recebeu a legião de Honra da França e, em 1937, foi nomeada pelo governo francês como catedrática do Conservatório de Música de Paris, sucedendo a Isidor Philipp (1863-1958), na classe de aperfeiçoamento e virtuosidade. A partir de então, passou a desenvolver uma importante carreira pedagógica.

Em 1940, apresentou-se no Carnegie Hall, em Nova York, interpretando o Concerto em lá menor Op.54, de Schumann. Em seguida, devido à Segunda Guerra Mundial e ao fechamento temporário do Conservatório de Paris, a pianista retornou ao Brasil para trabalhar como concertista e professora, convidada pelo então Ministro da Educação de Getúlio Vargas (1882-1954): Gustavo Capanema (1900-1985). Assim, Magda iniciou o seu curso anual de interpretação pianística, ministrado em 1942 em São Paulo, e, três anos depois, em Porto Alegre, Bahia e outros estados brasileiros. Tais eventos, bastante celebrados, foram inclusive transmitidos pela Rádio Nacional do Rio de Janeiro. Uma grande parte dos textos dessas aulas hoje se encontra na Fundação Magdalena Tagliaferro, em São Paulo.

Em 1949, a pianista voltou a viver em Paris, e, em 1953 foi elevada a Commandeur da Legião de Honra da França. Em 1969, criou em São Paulo a Fundação Magdalena Tagliaferro. Essa importante instituição, bastante ativa até a atualidade, tem promovido uma série de cursos, concursos e eventos musicais, fornecendo, inclusive, bolsas de estudos para promissores novos artistas. Em julho de 1970, tocou o recital de abertura do 1º Festival de Inverno de Campos do Jordão. Em 1972, Magda recebeu a Ordem de Rio Branco do Governo Brasileiro. Em 1979, após 39 anos, realizou seu segundo concerto no Carnegie Hall, em New York, com grande sucesso, e neste mesmo ano, publicou seu livro de memórias, Quase Tudo, escrito em francês e traduzido para o português por sua aluna Maria Lúcia Pinho.

Magda foi jurada em alguns dos principais concursos internacionais de piano, tais como o Concurso Chopin, em Varsóvia; o Concurso Tchaikovsky, na União Soviética; o Concurso Rainha Elizabeth, na Bélgica; e o Concurso da Academia de Verão do Mozarteum, em Salzburgo.

Manteve uma intensa atividade pedagógica e artística até o final de sua vida. Faleceu em 1986, aos 93 anos, no Rio de Janeiro. Foi velada no Theatro Municipal da cidade ao som do Réquiem de Fauré, e sepultada no Cemitério São João Batista.

A artista deixou um expressivo legado pedagógico, tendo ministrado aulas para uma série de pianistas, tais como Lina Pires de Campos (1918-2003), Neusa França (1920-2016), Heitor Alimonda (1922-2002), Maria Josephina Mignone (1923),  Gilberto Tinetti (1932), Isabel Mourão (1932-2016), Eudóxia de Barros (1937), Cristina Ortiz (1950), Fábio Caramuru (1956), entre tantos outros. Os princípios básicos da didática de Magda estão contidos no livro de Asako Tamura, sua ex-aluna, escrito em japonês, com edições traduzidas para o inglês e português

Entre as obras dedicadas à artista, destacam-se o Álbum No.4, do Guia Prático, e o Momoprecoce, de Villa-Lobos; o Ponteio No.6 de Camargo Guarnieri; a Sonata No.1 de Francisco Mignone; a Dança de Negros de Fructuoso Vianna; o Acalanto de Lina Pires de Campos; Prelúdio Op.36 No.9 de Tonyan Khallyhabby, e o Concerto em Mi Maior, de Reynaldo Hahn.

Sua importante discografia compreende, entre outros registros, a gravação do Momoprecoce de Villa-Lobos com a Orquestra Nacional da Radiodifusão Francesa, sob a regência do próprio compositor; gravações com a Orquestra Lamoureux, regida por Jean Fournet, que incluem as Variações Sinfônicas de César Franck; o Concerto No.5 Op.103 “Egípcio” de Saint-Säens; a Balada para piano e orquestra Op.19 de Fauré; e muitas gravações de obras de Chopin e de autores espanhóis como De Falla, Granados e Albéniz. Em 1981, gravou um disco com seu aluno Daniel Varsano (1953-1988), interpretando obras de Fauré para duo de pianos, álbum que recebeu o Grand Prix de l'Académie du Disque Français.