naturalidade
São Paulo
fontes
Bengell, Norma (diretora). Antonietta Rudge, o êxtase em movimento, 2003. (DVD)
Chiafarelli, Luigi. Migalhas, segundo fascículo. Propriedade reservada, s.d.
Leite, Edson. Antonietta, Guiomar e Magdalena, pianistas do Brasil. Editora Acquerello, 2011.
Marcondes, Marcos Antonio (org.). Enciclopédia da Música Brasileira. Publifolha, Artfolha, 1998.
Programa de concerto da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais, notas de Igor Reiner, setembro de 2011.
Atualizado em 14.09.2017
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Antonietta Rudge

N. 13 de Junho de 1885
F. 13 de Julho de 1974
Por André Pédico

Nasceu em 13 de junho de 1885, em São Paulo. Iniciou seus estudos musicais com o professor francês Gabriel Giraudon (1834-1906), que a preparou para seu primeiro recital, em 1892, no Salão da Casa Levy. A repercussão dessa apresentação chegou ao conhecimento do professor Luigi Chiaffarelli (1856-1923), que se ofereceu para dar aulas à menina.

Através de Chiaffarelli, Antonietta desenvolveu-se profundamente e entrou em contato com um repertório pianístico bastante avançado. Suas apresentações, nos concertos promovidos pelo mestre, chamaram a atenção do público e da crítica. Alguns desses eventos foram documentados por Chiaffarelli nos fascículos intitulados “Migalhas”. A leitura do segundo desses fascículos revela que o repertório de Antonietta, entre 1895 e 1897, já contava com Concertos de Mozart e de Beethoven. Entre as peças solo, destacam-se obras de Chopin, Bach e Schumann, além da Rapsódia Húngara No.6, de Liszt, em sua versão original.

Em 1906, Antonietta casou-se com o inglês Charles Miller (1874-1953), conhecido por ser o introdutor do futebol no Brasil. Miller intermediou o início da carreira internacional da pianista, que realizou, em 1907, concertos bem-sucedidos na Alemanha, França e Inglaterra. Seu repertório nesses recitais incluía obras como a Chaconne de Bach/Busoni, a Barcarola Op.60 e a Balada Op.52 de Chopin, Jeux d’eau de Ravel, a Balada Op.24 de Grieg e a Rapsódia Húngara No.2 de Liszt. Alguns anos mais tarde, Antonietta retornaria à Europa para uma nova série de concertos. Em 1916, quando Antonietta tinha apenas 31 anos, o escritor Carlos Vasconcelos publicou Antonietta Rudge, primeira biografia dedicada à pianista.

Em 1925, Antonietta separou-se de Charles Miller e se uniu ao poeta modernista Menotti del Picchia (1892-1988). A partir de então, passou a se dedicar principalmente às atividades pedagógicas, apresentando-se ocasionalmente como pianista. 

Foi uma das fundadoras do Conservatório Musical de Santos, em 1927, onde lecionaria por mais de 40 anos. Entre seus alunos, destacam-se os compositores José Antonio de Almeida Prado (1943-2010) e Gilberto Mendes (1922-2016).

Suas principais gravações foram realizadas nas décadas de 1930 e 1940, em álbuns de 78 rotações e em discos de acetato. O repertório constituía-se de obras como: a Morte de Amor de Isolda, de Wagner/Liszt,  a Barcarola de Chopin, além de peças de Scriabin, Rachmaninoff e Villa-Lobos, dentre outros. Esses registros foram lançados originalmente pelas gravadoras Odeon e Parlophon. Em 2000, algumas dessas gravações foram relançadas em CD, no volume dedicado à Antonietta, da série Grandes Pianistas Brasileiros, pela gravadora Masterclass.

Em 1939, Antonietta Rudge realizou a estreia do Concerto em Formas Brasileiras, de Hekel Tavares (1896-1969), sob a regência do autor e com transmissão nacional pela Rádio Cultura.

Mesmo tocando cada vez menos em público, Antonietta continuava sendo lembrada. Em 1951, o crítico Caldeira Filho lamentava a ausência da artista nos palcos, enfatizando “que seus admiradores esperam a sua volta, pois desejam ouvi-la ainda por muitas vezes. Há aí, para a artista, quase uma obrigação de reaparecer, para não manter oculta a sua arte magnífica, para receber a homenagem do público de São Paulo e para manter bem vivo em todos o espírito de beleza que ela soube despertar”. 

Sua última apresentação pública aconteceu em 1964, no Teatro Coliseu, em Santos. Antonietta interpretou, junto a Souza Lima (1898-1982) e Guiomar Novaes (1894-1979), obras para três pianos de Mozart e Bach, além da versão para três pianos de Souza Lima para a Grande Fantasia Triunfal sobre o Hino Nacional Brasileiro, de Gottschalk.

Algumas das peças dedicadas a Antonietta Rudge são os Jogos Pueris, de Fructuoso Vianna; o Ponteio No.17, de Camargo Guarnieri; a Polonaise Op.34 No.1 e o Estudo-Scherzo, de Henrique Oswald; o Miudinho, 4º movimento das Bachianas No.4, de Villa-Lobos; o Estudo para virtuoses No.8, de Arthur Napoleão (com quem Antonietta se apresentou a dois pianos mais de uma vez); e a Égloga, de Savino de Benedictis. 

Em 1973, foi lançado o LP A arte de Antonietta Rudge, contendo algumas antigas gravações em fitas magnéticas restauradas. No repertório, destaca-se a Chaconne, de Bach-Busoni, Jeux d’eau de Ravel, além de obras de Henrique Oswald, Villa-Lobos, Camargo Guarnieri e Alexandre Levy. 

Antonietta Rudge faleceu em São Paulo, em 13 de julho de 1974, e está enterrada no Cemitério da Consolação. Pela ocasião, Almeida Prado compôs a obra In Paradisum, que, segundo o próprio compositor, retrata a entrada da pianista no paraíso. Em 1977, por iniciativa de Menotti del Picchia, foi inaugurado, em São Paulo, um busto dedicado à pianista, obra de Luiz Morrone (1906-1998).